A COMPLEXIDADE DA CONSTRUÇÃO CIVIL : ENGENHARIA, ECONOMIA E RISCO

 

A construção civil é um setor vital para o desenvolvimento de qualquer país. No Brasil, responde por cerca de 6% do Produto Interno Bruto (PIB), conforme dados da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), empregando diretamente mais de 2,3 milhões de trabalhadores formais (CAGED, 2024), além de gerar impactos indiretos em toda a cadeia produtiva — da indústria de materiais ao setor financeiro.

Para efeito de comparação, países como os Estados Unidos e Alemanha destinam de 4% a 5% de seu PIB para o setor, porém com índices de produtividade superiores e níveis mais baixos de informalidade e desperdício. No Brasil, estima-se que entre 8% e 12% de todo o material comprado para uma obra seja perdido antes da entrega, segundo o Sinduscon-SP. Em países com construção mais industrializada, como Japão ou Alemanha, esse índice raramente ultrapassa 3%.

A complexidade técnica da construção vai além dos números econômicos. Um estudo do IBAPE-SP mostra que mais de 60% das patologias em edificações decorrem de falhas de execução, com destaque para infiltrações, fissuras, recalques e falhas de impermeabilização. Comparativamente, países com maior rigor normativo e controle tecnológico têm índices menores de retrabalho. No Brasil, o custo médio com correções pós-obra pode chegar a 5% do valor total da construção — valor que, além de onerar o incorporador, reduz a vida útil do empreendimento.

A segurança do trabalho é outro reflexo da complexidade e dos riscos envolvidos. O setor da construção civil é o segundo com mais acidentes de trabalho no Brasil, segundo o Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho (SmartLab/MPT), registrando mais de 30 mil ocorrências anuais. Para comparação, nos Estados Unidos, com um setor proporcionalmente maior, o número de acidentes fatais na construção gira em torno de 1.000 casos por ano, com índices proporcionais menores graças a legislações mais rígidas e maior automação dos processos.

No canteiro de obras, a gestão é feita com múltiplas variáveis: clima, solo, logística, disponibilidade de materiais, qualidade da mão de obra e mudanças de projeto. A construção raramente ocorre em condições ideais — e muitas vezes o que é previsto no projeto executivo precisa ser adaptado em campo. Isso exige uma equipe técnica capacitada para tomar decisões em tempo real, conciliando segurança estrutural, desempenho funcional e controle de custos.

Mesmo com os avanços tecnológicos, como a modelagem BIM, escaneamento a laser, drones e plataformas digitais de planejamento, o Brasil ainda enfrenta uma construção civil pouco industrializada. Segundo a McKinsey & Company, o setor global de construção está entre os menos digitalizados do mundo, e no Brasil a situação é ainda mais crítica, com baixo índice de automação e padronização.

Construir, portanto, é um exercício diário de coordenação técnica, econômica e humana. Cada obra é um projeto singular, com variáveis próprias, que exige integração entre disciplinas, controle rígido de qualidade, antecipação de riscos e decisões estratégicas em condições não ideais.

É nesse cenário, cheio de variáveis e de alta responsabilidade, que a engenharia civil atua: transformando incertezas em estruturas seguras, funcionais e duráveis. A complexidade da construção não está apenas nos cálculos estruturais, mas na capacidade de executar com precisão em um ambiente real e imperfeito.

 

Paulo S Pompermayer

Engenheiro civil

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